Peço perdão se machucar,
mas vem do desencanto pelas convenções
a decisão de te deixar
o que sinto agora agride tuas convicções
Eu não previ que, contrário a tudo que convém,
surgiria alguém pra me fazer ter que partir
Alheio a toda direção,
o vento qeu soprou me trouxe mais pra mim
Sei dessa dor;
há que haver calma se te ferem a pele d'alma,
sem inclinações
Mas, por favor, deixe ter asas
meus sonhos, meus desejos, minhas ilusões
Os teus grilhões já não podem mais me aprisionar
Se nômade é minh'alma, sei que sou meu próprio lar
Dispenso o julgamento,
que de alento serve a chance de poder voar
Eu não previ que, contrário a tudo que convém,
surgiria alguém pra me fazer ter que partir
Alheio a toda direção foi o vento que soprou em mim.
-------------------------------------------------
Inspirado em Cem Anos de Solidão. Só não sei explicar como.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Pontos Finais
"Cansei daqui, eu vou sair"
"Vê se decide não voltar"
"'Cê sabe, já não ia bem"
"É melhor não me procurar"
"Não era pra ter sido assim"
"Não sei se dá pra perdoar"
"Fique com o apartamento, eu já ia me mudar"
"Você 'tá sendo infantil"
"Quem é você pra me julgar?"
"Não me olhe com essa cara"
"Eu nunca quis te magoar"
"O problema não é você"
"Os homens são todos iguais"
"Vê se me liga depois..."
"Vê se você me deixa em paz!"
Todas tão inovadoras
Todas não mais que normais
Depois tudo vai se acertar
Depois pode ser nunca mais
Novos jogos são criados com as regras habituais
Às mesmas brigas seguem sempre os mesmos velhos pontos finais
"Errei"
"Eu já admiti"
"Não vem tentar se desculpar"
"Eu estava pensando em ti"
"Arruma outro pra enganar"
"Eu conheci um outro alguém"
"Me deixa ao menos te explicar"
"Não dá pra conversar assim"
"Não quero mais te escutar"
"Você nunca me respeitou"
"Você não pode me culpar"
"Se ao menos tentasse entender..."
"Não tenho como te ajudar"
"Tudo que eu fiz foi por nós dois"
"Isso não vai adiantar"
"Contrate um bom advogado, quero me divorciar"
Todas tão inovadoras
Todas não mais que normais
Depois tudo vai se acertar
Depois pode ser nunca mais
Novos jogos são criados com as regras habituais
Às mesmas brigas seguem sempre os mesmos velhos pontos finais
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Letrinha que originou o blog.
"Vê se decide não voltar"
"'Cê sabe, já não ia bem"
"É melhor não me procurar"
"Não era pra ter sido assim"
"Não sei se dá pra perdoar"
"Fique com o apartamento, eu já ia me mudar"
"Você 'tá sendo infantil"
"Quem é você pra me julgar?"
"Não me olhe com essa cara"
"Eu nunca quis te magoar"
"O problema não é você"
"Os homens são todos iguais"
"Vê se me liga depois..."
"Vê se você me deixa em paz!"
Todas tão inovadoras
Todas não mais que normais
Depois tudo vai se acertar
Depois pode ser nunca mais
Novos jogos são criados com as regras habituais
Às mesmas brigas seguem sempre os mesmos velhos pontos finais
"Errei"
"Eu já admiti"
"Não vem tentar se desculpar"
"Eu estava pensando em ti"
"Arruma outro pra enganar"
"Eu conheci um outro alguém"
"Me deixa ao menos te explicar"
"Não dá pra conversar assim"
"Não quero mais te escutar"
"Você nunca me respeitou"
"Você não pode me culpar"
"Se ao menos tentasse entender..."
"Não tenho como te ajudar"
"Tudo que eu fiz foi por nós dois"
"Isso não vai adiantar"
"Contrate um bom advogado, quero me divorciar"
Todas tão inovadoras
Todas não mais que normais
Depois tudo vai se acertar
Depois pode ser nunca mais
Novos jogos são criados com as regras habituais
Às mesmas brigas seguem sempre os mesmos velhos pontos finais
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Letrinha que originou o blog.
sábado, 21 de junho de 2008
Válter
Cheguei em casa e ela estava lá, enxugando o nariz do cachorro. Levei alguns segundos observando-a com esmero, procurando alguma coisa – cabelos, boca, voz, costas, roupas – qualquer coisa que justificasse o sim que eu disse a ela dezenove anos atrás, numa igreja da qual nunca tinha ouvido falar. Ao fechar a porta do banheiro, ainda pude ouvi-la gritar com o cachorro, que fugiu para a tranqüilidade da cozinha:
- Se depois pegar uma pneumonia, não quero ouvir reclamação!
Demorei-me no banho mais que o habitual. Não estava muito interessado em olhar Elisa ouvindo aquele mesmo vinil da Gal enquanto fazia o jantar, portando sua cara de Amélia. E me sentia culpado por isso. Culpado por não agüentar mais o arroz carregado de alho da Elisa, o mesmo vinil da Gal, por odiar o jeito dela me chamar de “docinho” e segurar errado a colher. Há malditos dezenove anos.
Saí do banheiro, me vesti no quarto e fui dar na cozinha. Sem notar que eu me aproximava, Elisa gritou:
- Vai jantar, docinho?
- Válter – disse eu, pra nuca dela.
- Quê, amor? – ela disse, sem tirar o olho da panela.
- Meu nome. É Válter. Não “docinho” – falei em tom jocoso.
Elisa suspirou, virou em minha direção e disse, com um virar de cabelos que ela deve ter achado que a faria parecer resoluta:
- Eu te chamo assim desde que a gente começou a namorar, Vál-ter – revidou.
“Pois é. Esse é o problema”, disse eu. Na verdade, acho que só pensei, porque não teria coragem de dizer. E se disse, ela não ouviu. Bem sei disso porque, caso contrário, a panela já estaria no chão e o vinil da Gal teria sido arremessado em direção à minha cabeça assim que eu virasse as costas pra minha mulher irritante. Elisa sempre foi barraqueira.
Da sala, eu decidi apenas informar que não ia jantar. Precisei sentar na minha poltrona pra perceber que nosso cão tinha chegado primeiro. Tive um sentimento de solidariedade pelo bicho; vai ver ele também não agüentava mais a detentora da liberdade dele. Acabei botando-o no colo, num ataque de sentimentalismo – logo eu, que não só fui contra a aquisição do dito cujo como também sou alérgico a pêlo canino. Adormecemos juntos, eu e ele, e ele deve ter percebido e estranhado meu estado de carência, porque eu acordei com o solavanco causado pelo seu pulo em direção ao solo.
Resolvi ler o jornal. “Dois em cada três casamentos resultam em divórcio após quinze anos”. Faz sentido.
Grávida. Ela estava grávida quando nos casamos. Sim, bem lembro. Ouvi Elisa no telefone ao fundo:
- Não... Você disse isso a ela? Nã... Eu sei, filho, mas isso desestab... Desestabiliza a... Eu sei, meu amorzinho. Volte pra casa, pode voltar. Quando quiser. Tem almoçado? Responda você. Tem almoçado direitinho? Junior, você estava muito magrinho na última foto que você me... Mas já?! ‘Tá bom, filhinho, mas me deixe o número do seu hot... Tudo bem, tudo bem. Mamãe te ama, meu amor. Fica com De... Alô, Junior? Junior?
É bem difícil lembrar que você é pai quando o filho mora fora do país há dois anos, com uma mulher que você não conhece e você nunca sabe a localização exata dele porque o louco vive viajando pelo mundo. A mãe dele é outra que acha lindo ele ser um “andarilho”. Acende uma vela pra ele todos os dias. Eu não acho lindo. Acho muito mais bonito ter um sofá de couro de bicho do que rodar o mundo tentando salvar os ditos. É claro que Elisa não entende. Ela diz que eu tenho que apoiar o menino. É fácil falar. Ele herdou essa coisa natureba da mãe, uma chatice. Eu devia ter casado com a arquiteta que o papai me empurrava, não com a hippie tresloucada que era a Elisa.
Quando vi, lá estava ela na porta.
- Vamos à missa.
- Você vai, suponho.
- Não, docinho. Nós vamos. Você precisa tirar esse encosto de você.
- Elisa, a última missa que eu fui foi a da primeira comunhão do Júnior. Aquela que ele vomitou a hóstia no pé do padre. Eu não gosto de missa. Nunca gostei. Eu não vou à missa. Vou ficar aqui, lendo.
Elisa desembestou.
- Tá vendo? É por isso que as coisas não vão pra frente com a gente. Eu tô aqui tentando salvar nossa relação, você é sempre tão difícil com esse seu arzinho de só faço o que eu quero, eu to cansada disso, ouviu bem, Válter?, tudo bem, você não quer ir, não vá, não vou mais te pedir, fica aí, fica, pode ficar, eu vou pra igreja salvar minha alma, a sua já está entregue as forças do mal, por que você permite isso, Válter, POR QUE VOCÊ PERMITE?!
E saiu batendo a porta. Enquanto eu tentava metabolizar todas as informações sem pausa que minha mulher cuspiu sobre mim, devo ter dormido de novo. Acho que sim, porque quando me dei conta, uma horda de velhinhas com vestidos floridos horrendos estava em minha casa, com pratinhos de comida (“na poltrona não, minha senhora”) e livretos com santos na frente.
- Docinho, trouxe minhas amigas aqui pra gente rezar o terço junto. Aí, a gente já faz um lanche depois. Bondade das meninas. Ele tá mesmo precisando rezar. Viu, amor? Vamos rezar, vai ser bom. Tem orelhinha, você gosta. Não, pode deixar aí em cima, pode deixar. Vamos, amor, fazer uma roda?
Ai.
Depois do que me pareceu uma eternidade (por que é que rola aquele apertãozinho na mão quando acaba o Pai Nosso?), lá iam as velhinhas embora, todas serelepes depois do encontro com o Divino. “Deus te crie”, “Deus te acompanhe”, “Deus te dê juízo”.Elisa parecia bem satisfeita com sua proeza. E eu, com vontade de encher Deus de porrada.
Coooontinua.
- Se depois pegar uma pneumonia, não quero ouvir reclamação!
Demorei-me no banho mais que o habitual. Não estava muito interessado em olhar Elisa ouvindo aquele mesmo vinil da Gal enquanto fazia o jantar, portando sua cara de Amélia. E me sentia culpado por isso. Culpado por não agüentar mais o arroz carregado de alho da Elisa, o mesmo vinil da Gal, por odiar o jeito dela me chamar de “docinho” e segurar errado a colher. Há malditos dezenove anos.
Saí do banheiro, me vesti no quarto e fui dar na cozinha. Sem notar que eu me aproximava, Elisa gritou:
- Vai jantar, docinho?
- Válter – disse eu, pra nuca dela.
- Quê, amor? – ela disse, sem tirar o olho da panela.
- Meu nome. É Válter. Não “docinho” – falei em tom jocoso.
Elisa suspirou, virou em minha direção e disse, com um virar de cabelos que ela deve ter achado que a faria parecer resoluta:
- Eu te chamo assim desde que a gente começou a namorar, Vál-ter – revidou.
“Pois é. Esse é o problema”, disse eu. Na verdade, acho que só pensei, porque não teria coragem de dizer. E se disse, ela não ouviu. Bem sei disso porque, caso contrário, a panela já estaria no chão e o vinil da Gal teria sido arremessado em direção à minha cabeça assim que eu virasse as costas pra minha mulher irritante. Elisa sempre foi barraqueira.
Da sala, eu decidi apenas informar que não ia jantar. Precisei sentar na minha poltrona pra perceber que nosso cão tinha chegado primeiro. Tive um sentimento de solidariedade pelo bicho; vai ver ele também não agüentava mais a detentora da liberdade dele. Acabei botando-o no colo, num ataque de sentimentalismo – logo eu, que não só fui contra a aquisição do dito cujo como também sou alérgico a pêlo canino. Adormecemos juntos, eu e ele, e ele deve ter percebido e estranhado meu estado de carência, porque eu acordei com o solavanco causado pelo seu pulo em direção ao solo.
Resolvi ler o jornal. “Dois em cada três casamentos resultam em divórcio após quinze anos”. Faz sentido.
Grávida. Ela estava grávida quando nos casamos. Sim, bem lembro. Ouvi Elisa no telefone ao fundo:
- Não... Você disse isso a ela? Nã... Eu sei, filho, mas isso desestab... Desestabiliza a... Eu sei, meu amorzinho. Volte pra casa, pode voltar. Quando quiser. Tem almoçado? Responda você. Tem almoçado direitinho? Junior, você estava muito magrinho na última foto que você me... Mas já?! ‘Tá bom, filhinho, mas me deixe o número do seu hot... Tudo bem, tudo bem. Mamãe te ama, meu amor. Fica com De... Alô, Junior? Junior?
É bem difícil lembrar que você é pai quando o filho mora fora do país há dois anos, com uma mulher que você não conhece e você nunca sabe a localização exata dele porque o louco vive viajando pelo mundo. A mãe dele é outra que acha lindo ele ser um “andarilho”. Acende uma vela pra ele todos os dias. Eu não acho lindo. Acho muito mais bonito ter um sofá de couro de bicho do que rodar o mundo tentando salvar os ditos. É claro que Elisa não entende. Ela diz que eu tenho que apoiar o menino. É fácil falar. Ele herdou essa coisa natureba da mãe, uma chatice. Eu devia ter casado com a arquiteta que o papai me empurrava, não com a hippie tresloucada que era a Elisa.
Quando vi, lá estava ela na porta.
- Vamos à missa.
- Você vai, suponho.
- Não, docinho. Nós vamos. Você precisa tirar esse encosto de você.
- Elisa, a última missa que eu fui foi a da primeira comunhão do Júnior. Aquela que ele vomitou a hóstia no pé do padre. Eu não gosto de missa. Nunca gostei. Eu não vou à missa. Vou ficar aqui, lendo.
Elisa desembestou.
- Tá vendo? É por isso que as coisas não vão pra frente com a gente. Eu tô aqui tentando salvar nossa relação, você é sempre tão difícil com esse seu arzinho de só faço o que eu quero, eu to cansada disso, ouviu bem, Válter?, tudo bem, você não quer ir, não vá, não vou mais te pedir, fica aí, fica, pode ficar, eu vou pra igreja salvar minha alma, a sua já está entregue as forças do mal, por que você permite isso, Válter, POR QUE VOCÊ PERMITE?!
E saiu batendo a porta. Enquanto eu tentava metabolizar todas as informações sem pausa que minha mulher cuspiu sobre mim, devo ter dormido de novo. Acho que sim, porque quando me dei conta, uma horda de velhinhas com vestidos floridos horrendos estava em minha casa, com pratinhos de comida (“na poltrona não, minha senhora”) e livretos com santos na frente.
- Docinho, trouxe minhas amigas aqui pra gente rezar o terço junto. Aí, a gente já faz um lanche depois. Bondade das meninas. Ele tá mesmo precisando rezar. Viu, amor? Vamos rezar, vai ser bom. Tem orelhinha, você gosta. Não, pode deixar aí em cima, pode deixar. Vamos, amor, fazer uma roda?
Ai.
Depois do que me pareceu uma eternidade (por que é que rola aquele apertãozinho na mão quando acaba o Pai Nosso?), lá iam as velhinhas embora, todas serelepes depois do encontro com o Divino. “Deus te crie”, “Deus te acompanhe”, “Deus te dê juízo”.Elisa parecia bem satisfeita com sua proeza. E eu, com vontade de encher Deus de porrada.
Coooontinua.
terça-feira, 1 de abril de 2008
A Quinta das Lágrimas II
Vai, me solta a mão
me parte em dois
me leva ao chão,
mas 'inda assim vai,
que a solidão tarda a matar...
Segue teus passos pra não voltar
Pronta pro adeus
Vai te esgueirar, vai te perder
Achar os teus
E alimentar os sonhos de quem pode te ter
Sem te cobrar,
Nem te prender por entre os braços,
como quem teme deixar partir o que já não há;
Como quem tem que deixar pra trás
Tudo que faz sem se arrepender.
Sendo assim, vai, parte de mim!
Te entrega às mãos de quem melhor vá te tocar.
Vai, minha canção,
Percorre o tempo
E leva ao longe esse lamento,
para aplacar a dor que está
No meu coração...
me parte em dois
me leva ao chão,
mas 'inda assim vai,
que a solidão tarda a matar...
Segue teus passos pra não voltar
Pronta pro adeus
Vai te esgueirar, vai te perder
Achar os teus
E alimentar os sonhos de quem pode te ter
Sem te cobrar,
Nem te prender por entre os braços,
como quem teme deixar partir o que já não há;
Como quem tem que deixar pra trás
Tudo que faz sem se arrepender.
Sendo assim, vai, parte de mim!
Te entrega às mãos de quem melhor vá te tocar.
Vai, minha canção,
Percorre o tempo
E leva ao longe esse lamento,
para aplacar a dor que está
No meu coração...
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
A Quinta das Lágrimas
Por fim, é mágoa. Mágoa mesmo, rancorosa, infantil. Mágoa. Da pior espécie - cruel, e com quem a sente. Dele? Jamais guardaria mágoa dele. Assim como não guardei nada: cartas, presentes, promessas... Talvez tenha guardado dois ou três retratos, para olhá-los nos olhos e desfrutar do poder e da coragem de ignorá-los, indiferente. Não é dele a mágoa que guardo.
Guardo mágoa, sim, desse tal amor vil e mesquinho que concede a si mesmo o título de rei dos sentimentos puros, quando não passa do feitor orgulhoso que escraviza ilusões dentro de mim, quando o que eu mais quero é libertá-las e libertar-me delas. Desse amor que me enlouquece e me aprisiona a pensamentos dos quais nem conhecimento eu tinha, mas que me estendem o consolo pobre da dúvida.
Guardo mágoa do tempo, que rompe elos sem remorso, mas esquece de tirar as ruínas das extremidades. Do tempo que corre e camufla o passado que ninguém mais vê, mas que se faz presente nas músicas, na madrugada e nas palavras escritas a esmo às seis da manhã. Do tempo que eu julguei ser atemporal, imperecível - e que me segredou ser, mas não permitiu que ninguém mais soubesse, pelo prazer de me ver carregar essa verdade em silêncio.
Guardo mágoa maior ainda da distância, que me arrancou os ideais e os planos das mãos sem misericórdia e me deixou à mercê do acaso. Da distância que antes me fazia sofrer por estar lá e que agora me tortura por não estar, porque "lá" não existe mais. Da distância que agora calhou de ser relativa, e que me mantém a milhas afastada quando estou absorta em seu sorriso displicente.
Mágoa também guardo da saudade, que se renova a cada história bonita enquanto eu me desmancho em lágrimas que não ousam cair. Da saudade que se encontra entre a solidão e a esperança de não existir mais. Da cretina palavra inventada por um sofredor torpe que desejava a companhia de outros dos seus.
Mas provavelmente a maior mágoa que guardo é de mim mesma, que tanto me deixei magoar pelo simples afã de ter algo do que me orgulhar. Guardo mágoa de mim por deixar que minhas mágoas levem meus sonhos, mas segurar comigo a vontade de um dia poder sonhar de novo, e maldigo toda a mágoa que me mantém distante do que um dia eu fui - antes de amar demais e sucumbir à saudade do tempo em que a mágoa não me tirava o sono.
-------------------------------------------
E então, eu decidi postar uns textos antigos. Este, por exemplo, foi feito depois de ouvir, em uma loooonga conversa, a história de vida de uma amiga. Hoje, ele não faz mais sentido pra mim (provavelmente pra ela faz menos ainda), mas ainda é interessante lê-lo, porque dá a impressão que, por mais subjetivo que ele seja, uma história inteira está exposta e poderia ter acontecido com qualquer um.
-------------------------------------------
Outra: A Quinta das Lágrimas é uma fonte que existe em Portugal, símbolo da saudade. Não tem nada a ver com quintas-feiras, e o post ser feito em uma quinta também é coincidência =D
Guardo mágoa, sim, desse tal amor vil e mesquinho que concede a si mesmo o título de rei dos sentimentos puros, quando não passa do feitor orgulhoso que escraviza ilusões dentro de mim, quando o que eu mais quero é libertá-las e libertar-me delas. Desse amor que me enlouquece e me aprisiona a pensamentos dos quais nem conhecimento eu tinha, mas que me estendem o consolo pobre da dúvida.
Guardo mágoa do tempo, que rompe elos sem remorso, mas esquece de tirar as ruínas das extremidades. Do tempo que corre e camufla o passado que ninguém mais vê, mas que se faz presente nas músicas, na madrugada e nas palavras escritas a esmo às seis da manhã. Do tempo que eu julguei ser atemporal, imperecível - e que me segredou ser, mas não permitiu que ninguém mais soubesse, pelo prazer de me ver carregar essa verdade em silêncio.
Guardo mágoa maior ainda da distância, que me arrancou os ideais e os planos das mãos sem misericórdia e me deixou à mercê do acaso. Da distância que antes me fazia sofrer por estar lá e que agora me tortura por não estar, porque "lá" não existe mais. Da distância que agora calhou de ser relativa, e que me mantém a milhas afastada quando estou absorta em seu sorriso displicente.
Mágoa também guardo da saudade, que se renova a cada história bonita enquanto eu me desmancho em lágrimas que não ousam cair. Da saudade que se encontra entre a solidão e a esperança de não existir mais. Da cretina palavra inventada por um sofredor torpe que desejava a companhia de outros dos seus.
Mas provavelmente a maior mágoa que guardo é de mim mesma, que tanto me deixei magoar pelo simples afã de ter algo do que me orgulhar. Guardo mágoa de mim por deixar que minhas mágoas levem meus sonhos, mas segurar comigo a vontade de um dia poder sonhar de novo, e maldigo toda a mágoa que me mantém distante do que um dia eu fui - antes de amar demais e sucumbir à saudade do tempo em que a mágoa não me tirava o sono.
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E então, eu decidi postar uns textos antigos. Este, por exemplo, foi feito depois de ouvir, em uma loooonga conversa, a história de vida de uma amiga. Hoje, ele não faz mais sentido pra mim (provavelmente pra ela faz menos ainda), mas ainda é interessante lê-lo, porque dá a impressão que, por mais subjetivo que ele seja, uma história inteira está exposta e poderia ter acontecido com qualquer um.
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Outra: A Quinta das Lágrimas é uma fonte que existe em Portugal, símbolo da saudade. Não tem nada a ver com quintas-feiras, e o post ser feito em uma quinta também é coincidência =D
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Sobras de Nós
Você deve acreditar que eu sou criança
e que acho o seu joguinho divertido
mas até a diversão às vezes cansa
e o cansaço nunca fez tanto sentido
Eu tentei me manter fria e displicente
pra enfrentar tua palavra tão cruel
Eu tentei ser venenosa e indiferente
mas você cabe melhor nesse papel
Ainda guardo as marcas do que foi partido
Ainda aguardo o que você me prometeu
Ainda arde meu orgulho destruído
Ainda dói saber que quem deixou fui eu
Mas vou reservar um tempo
pra rir um pouco da minha desgraça
Eu vou esperar, atenta,
o momento de desdenhar da tua pirraça
Quem sabe assim me surpreendo
vejo que estou te esquecendo
e que nem lembro mais do som da tua voz
Quem sabe assim eu sigo a vida
ignorando as feridas
até em mim não existir sobras de nós.
-----------------------------------------
De início, eu achei muito bobo. Mas, como eu ainda tô carregando as faíscas de simplicidade que eu defendi em Lúcia e a Tyara encorajou, eu acabei gostando. É simples porque é clichê, e ninguém está imune a eles.
----------------------------------------
Outra coisa: umas 5 pessoas me disseram que Lúcia decepcionou. Não é culpa minha, juro. Até porque, Lúcia já tinha um fim antes mesmo de começar. A autora avisa: Só se decepciona com Lúcia quem espera algo dela, e Lúcia não é alguém que se pode prever. Ela é abusada e segue o rumo que quer, não tenho eu nenhum controle sobra essa maluca. ;D
e que acho o seu joguinho divertido
mas até a diversão às vezes cansa
e o cansaço nunca fez tanto sentido
Eu tentei me manter fria e displicente
pra enfrentar tua palavra tão cruel
Eu tentei ser venenosa e indiferente
mas você cabe melhor nesse papel
Ainda guardo as marcas do que foi partido
Ainda aguardo o que você me prometeu
Ainda arde meu orgulho destruído
Ainda dói saber que quem deixou fui eu
Mas vou reservar um tempo
pra rir um pouco da minha desgraça
Eu vou esperar, atenta,
o momento de desdenhar da tua pirraça
Quem sabe assim me surpreendo
vejo que estou te esquecendo
e que nem lembro mais do som da tua voz
Quem sabe assim eu sigo a vida
ignorando as feridas
até em mim não existir sobras de nós.
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De início, eu achei muito bobo. Mas, como eu ainda tô carregando as faíscas de simplicidade que eu defendi em Lúcia e a Tyara encorajou, eu acabei gostando. É simples porque é clichê, e ninguém está imune a eles.
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Outra coisa: umas 5 pessoas me disseram que Lúcia decepcionou. Não é culpa minha, juro. Até porque, Lúcia já tinha um fim antes mesmo de começar. A autora avisa: Só se decepciona com Lúcia quem espera algo dela, e Lúcia não é alguém que se pode prever. Ela é abusada e segue o rumo que quer, não tenho eu nenhum controle sobra essa maluca. ;D
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Lúcia - Continuação
Pra quem cobrou, eis aí =D
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Lúcia era uma criatura a quem se poderia tentar decifrar por horas a fio, e em vão. Singular, construía os mais loucos descaminhos para explicar o inexplicável, a seu modo e a seu juízo. Ela sabia, de alguma forma, que tinha poderes não declarados em suas mãos - entre eles, o de controlar minha disposição. E tinha muita vida em si que transbordava, e tinha tanta vontade de conhecer o novo. Pediu-me para mostrar o dia, o novo, a água, a areia, os santos. Pediu-me para mostrar-lhe as mãos.
- O que pode haver nas mãos de um santeiro, além de areia?
- Nas mãos cabem histórias que as palavras não contam, santeiro. Você devia saber disso.
- E viu alguma história nelas?
- Ainda não. Mas um dia alguma há de ser lida através delas.
Eu devia saber que Lúcia era muito mais que uma visitante. Devia ter ao menos imaginado que ela marcaria minha história, sem nunca marcar minhas mãos. Marcar todas as palavras que escrevo angustiado.
O dia seguiu da maneira que seguiria como se fosse qualquer dia outro, e ninguém poderia esperar que fosse diferente. Trabalhar, não mais naquele dia. Fui levar Lúcia para conhecer o povoado, ver os rostos que foram moldados a sol e trabalho. E as horas foram tomando seu desenho, o fim do dia colorindo de giz a praia, e eu estava habituado a tudo aquilo. Lúcia, porém, estava radiante.
- Tenho a sensação de que os dias nunca haviam nascido para mim antes de hoje. Deve ser grandiosa a sensação de, além de ser Deus pelo avesso, ter um dia novo que só nasce pra si.
- Não é tão brilhante ter dias novos que só são novos no nome. Você aqui é a minha idéia de Dia Novo. Parece que você é de mentira.
- Mas o que é a mentira, além de uma verdade que aguarda a chance de acontecer? Você um dia vai enxergar a beleza dessa areia, desse mar, dessa sua falta de dias novos. Só não entendo do que adianta moldar milagreiros do reino divino se o Paraíso está à sua frente; e é um direito, não um milagre - disse, enquanto fingia flutuar de braços abertos.
E a noite abriu suas asas, e agora era um breu que parecia sólido. E Lúcia já dormia a sono solto, ali mesmo nas minhas pernas, na porta da minha casa, e eu sentado tentando entender a velocidade dos meus pensamentos. Quem era, meu Deus, de quem era aquele semblante repousando no meu colo, o que foi que a trouxe, e por que nada daquilo fazia sentido se não havia nada pra ser entendido? E eu pensava nos meus dias de antes que não mais tinham importância, pensava nos santos, em Deus, nos meus pais, em mim mesmo e em todas as coisas que eu nunca procurei entender; e tudo isso por esta menina louca, de rosto austero e postura pedante, cheia de si e dos argumentos profusos. E a noite foi clareando e virando dia, ignorando a expectativa de que ela seria imortal. Não dormi nem por um instante, Lúcia em meu colo e sobrevoando minha cabeça - porém sem fazer ninho.
- Pensar é bom em tese, mas seu rosto desmentiria isso rapidamente - disse Lúcia, protegendo os olhos do sol.
- Senta, Lúcia - resmunguei, com sono e irritado com o estado de confusão em que ela me deixava - senta e me olha, que é horrível esse medo de olhar os outros nos olhos.
- E te olhar para quê, se é quando eu te olho que vejo que não te conheço? Se aí é que enxergo a aspereza do teu rosto como sempre vi em todos os rostos que se sentem contrariados pelo que é novo? Me cansa os olhos ver que aqui tudo respira profundo; menos você, que não respira nem morre para ficar aguardando o tempo inteiro algo novo acontecer. Eu estou aqui, e eu sei que você consegue ver. Eu estou aqui, e enquanto me renovo a cada segundo, você teme. Quem é você para me falar de medo?
Seu lindo rosto contorceu-se até formar algo disforme, que eu não consegui traduzir. Lúcia levantou-se, impaciente. "Vou embora", foi o que ela disse. Então, calado, também levantei e a peguei pela mão. E calados fomos, caminhando sem explicações ou teorias, sem lições de vida ou promessas de paraíso. À beira do mar, uma montanha - a grande pedra da praia. "Quero ir lá em cima". Subimos e, sem fôlego ao chegar no topo, sentamos. Enquanto observávamos a dança do mar lá embaixo, longe, Lúcia sorriu pela primeira vez naquele dia. Encantado e arrependido, desculpei-me por ter sido rude antes, e tentei fazê-la entender que era justamente por não conseguir entendê-la que nada mais era passível de entendimento. E então, ela sorriu e disse, sem que eu soubesse que era uma despedida:
- A única coisa que você precisa entender é que nada precisa ser entendido ou explicado. Você só conseguirá entender a profundidade das coisas bonitas quando absorver delas a sutileza. E talvez isso seja o que eu tanto procure. A sutileza das coisas belas, a ausência de justificativas para viver a não ser a própria vida. Daí as coisas passam a fazer sentido, e já o fazem para mim. Este lugar já deixou suas histórias nas minhas mãos.
E da pedra ela pulou, e foi dar no mar. E para o mar fiquei olhando por horas que pareceram meses. Ela não mais voltou à superfície. E era como se eu soubesse que ela não voltaria desde o início. Não me causou espanto nem estranheza. Era como se ela tivesse ali partido para escrever novas histórias em novas terras, viver outras aventuras destilando seu modo livre de transbordar vida.
E da pedra eu desci, sofrido. Na porta de casa, aquele rosto em areia me sorria, com seu ar pagão e encorajador. E então, as coisas subitamente se encaixaram: as sutilezas, os mistérios, os meus amargos dez mil dias que eu passei esperando a luz de Lúcia. Não tive dúvidas quando decidi juntar minhas parcas coisas e partir para outro lugar que me oferecesse a amplitude que agora havia em mim.Hoje, tantos muitos outros dez mil dias depois, ainda não consigo explicar o que aconteceu em Dia Novo quando Lúcia apareceu. Já fiz muito depois de tudo aquilo: trabalhei, fiz dinheiro, casei e moldei novos rostos feitos de amor, carne e osso. Virei artista, escritor, intelectual. Porém, ao olhar para minhas mãos, ainda vejo restos de areia, e é como se olhasse para dentro de mim - onde sempre haverá um pouco de areia, um pouco de santo, um pouco de vento e um pouco de mar. Onde sempre haverá um pouco de Lúcia.
- O que pode haver nas mãos de um santeiro, além de areia?
- Nas mãos cabem histórias que as palavras não contam, santeiro. Você devia saber disso.
- E viu alguma história nelas?
- Ainda não. Mas um dia alguma há de ser lida através delas.
Eu devia saber que Lúcia era muito mais que uma visitante. Devia ter ao menos imaginado que ela marcaria minha história, sem nunca marcar minhas mãos. Marcar todas as palavras que escrevo angustiado.
O dia seguiu da maneira que seguiria como se fosse qualquer dia outro, e ninguém poderia esperar que fosse diferente. Trabalhar, não mais naquele dia. Fui levar Lúcia para conhecer o povoado, ver os rostos que foram moldados a sol e trabalho. E as horas foram tomando seu desenho, o fim do dia colorindo de giz a praia, e eu estava habituado a tudo aquilo. Lúcia, porém, estava radiante.
- Tenho a sensação de que os dias nunca haviam nascido para mim antes de hoje. Deve ser grandiosa a sensação de, além de ser Deus pelo avesso, ter um dia novo que só nasce pra si.
- Não é tão brilhante ter dias novos que só são novos no nome. Você aqui é a minha idéia de Dia Novo. Parece que você é de mentira.
- Mas o que é a mentira, além de uma verdade que aguarda a chance de acontecer? Você um dia vai enxergar a beleza dessa areia, desse mar, dessa sua falta de dias novos. Só não entendo do que adianta moldar milagreiros do reino divino se o Paraíso está à sua frente; e é um direito, não um milagre - disse, enquanto fingia flutuar de braços abertos.
E a noite abriu suas asas, e agora era um breu que parecia sólido. E Lúcia já dormia a sono solto, ali mesmo nas minhas pernas, na porta da minha casa, e eu sentado tentando entender a velocidade dos meus pensamentos. Quem era, meu Deus, de quem era aquele semblante repousando no meu colo, o que foi que a trouxe, e por que nada daquilo fazia sentido se não havia nada pra ser entendido? E eu pensava nos meus dias de antes que não mais tinham importância, pensava nos santos, em Deus, nos meus pais, em mim mesmo e em todas as coisas que eu nunca procurei entender; e tudo isso por esta menina louca, de rosto austero e postura pedante, cheia de si e dos argumentos profusos. E a noite foi clareando e virando dia, ignorando a expectativa de que ela seria imortal. Não dormi nem por um instante, Lúcia em meu colo e sobrevoando minha cabeça - porém sem fazer ninho.
- Pensar é bom em tese, mas seu rosto desmentiria isso rapidamente - disse Lúcia, protegendo os olhos do sol.
- Senta, Lúcia - resmunguei, com sono e irritado com o estado de confusão em que ela me deixava - senta e me olha, que é horrível esse medo de olhar os outros nos olhos.
- E te olhar para quê, se é quando eu te olho que vejo que não te conheço? Se aí é que enxergo a aspereza do teu rosto como sempre vi em todos os rostos que se sentem contrariados pelo que é novo? Me cansa os olhos ver que aqui tudo respira profundo; menos você, que não respira nem morre para ficar aguardando o tempo inteiro algo novo acontecer. Eu estou aqui, e eu sei que você consegue ver. Eu estou aqui, e enquanto me renovo a cada segundo, você teme. Quem é você para me falar de medo?
Seu lindo rosto contorceu-se até formar algo disforme, que eu não consegui traduzir. Lúcia levantou-se, impaciente. "Vou embora", foi o que ela disse. Então, calado, também levantei e a peguei pela mão. E calados fomos, caminhando sem explicações ou teorias, sem lições de vida ou promessas de paraíso. À beira do mar, uma montanha - a grande pedra da praia. "Quero ir lá em cima". Subimos e, sem fôlego ao chegar no topo, sentamos. Enquanto observávamos a dança do mar lá embaixo, longe, Lúcia sorriu pela primeira vez naquele dia. Encantado e arrependido, desculpei-me por ter sido rude antes, e tentei fazê-la entender que era justamente por não conseguir entendê-la que nada mais era passível de entendimento. E então, ela sorriu e disse, sem que eu soubesse que era uma despedida:
- A única coisa que você precisa entender é que nada precisa ser entendido ou explicado. Você só conseguirá entender a profundidade das coisas bonitas quando absorver delas a sutileza. E talvez isso seja o que eu tanto procure. A sutileza das coisas belas, a ausência de justificativas para viver a não ser a própria vida. Daí as coisas passam a fazer sentido, e já o fazem para mim. Este lugar já deixou suas histórias nas minhas mãos.
E da pedra ela pulou, e foi dar no mar. E para o mar fiquei olhando por horas que pareceram meses. Ela não mais voltou à superfície. E era como se eu soubesse que ela não voltaria desde o início. Não me causou espanto nem estranheza. Era como se ela tivesse ali partido para escrever novas histórias em novas terras, viver outras aventuras destilando seu modo livre de transbordar vida.
E da pedra eu desci, sofrido. Na porta de casa, aquele rosto em areia me sorria, com seu ar pagão e encorajador. E então, as coisas subitamente se encaixaram: as sutilezas, os mistérios, os meus amargos dez mil dias que eu passei esperando a luz de Lúcia. Não tive dúvidas quando decidi juntar minhas parcas coisas e partir para outro lugar que me oferecesse a amplitude que agora havia em mim.Hoje, tantos muitos outros dez mil dias depois, ainda não consigo explicar o que aconteceu em Dia Novo quando Lúcia apareceu. Já fiz muito depois de tudo aquilo: trabalhei, fiz dinheiro, casei e moldei novos rostos feitos de amor, carne e osso. Virei artista, escritor, intelectual. Porém, ao olhar para minhas mãos, ainda vejo restos de areia, e é como se olhasse para dentro de mim - onde sempre haverá um pouco de areia, um pouco de santo, um pouco de vento e um pouco de mar. Onde sempre haverá um pouco de Lúcia.
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