Fez-se silêncio onde silêncio sempre foi e surpresa não houve - no silêncio havia comodidade. Conforto e quietude. Talvez porque no silêncio morrem as promessas há tanto esquecidas, encobertas pelo engano de que essas se cumpririam como sentenças, assim, silenciosamente.
No silêncio ainda repousam as palavras de desculpas que foram pensadas outrora, e talvez tenham permanecido assim, em pensamento, por se fazerem desnecessárias - já que há perdões que só o silêncio pode pedir. Ainda mais o perdão de uma promessa esquecida. De fato, só restava o silêncio que sempre lá esteve - e por que não haveria de estar?
E é possível que até o silêncio tenha se assustado com o basta sussurrado por um fio de voz, que desencantou-se do silêncio o suficiente para perceber que em sua comodidade e quietude reside também o conformismo e o medo; e que só há beleza no silêncio quando este é precedido da poesia e da força que só as palavras podem conter.
Aquele sussurro ficou pairando no silêncio que se seguiu sabe-se lá por quanto tempo, à espera de um grito seguidor, de mesmo um gemido de aprovação. Mas é difícil romper as amarras do confortável, e aquele fio de voz ficou ali, imerso no silêncio alheio e na decepção de ser apenas um sussurro incapaz de contagiar o que foi calado dentro de cada um.
E mesmo sabendo que dentro de si carregava não só um sussurro, mas um grito contido, aquele fio de voz que por um momento ousou sussurrar trocou o sussurro por um suspiro cheio de impotência e frustração. Resignado, deixou o comodismo calar sua tristeza e fez-se silêncio onde silêncio já não era.
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Primeiras decepções com o jornalismo.
2 comentários:
mas que bonitooooo esse texto! =O
realmente, profissão essa que reserva um bocadinho de decepções... por isso que vou seguir o magistério e, no máximo, escrever uma coluna sobre sexo tântrico em um jornal da terceira idade ^^
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"tudo tende ao silêncio...
quando tudo mais desistir de lutar contra ele e se entregar, ele triunfará soberano e indestrutível. E calado."
(Carlos Nestor)
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