terça-feira, 27 de março de 2007

Menor Que Quem?

Pois é, caros leitores. Como alguns de vocês sabem, esta que vos escreve completou sua maioridade há uma semana (Sim: bolo, guaraná e muito doce pra mim). Período propício para a façanha, já que muito se tem dito sobre a diminuição (ou não) da maioridade penal e - como é de praxe no nosso País Tropical -nada se resolve. Eu, na minha humilde condição de "recém ex-menor", vejo-me tentada a pôr o bedelho no assunto.
Então. De cara, digo que a juventude brasileira anda muito mal vista. No mínimo. Esqueceram o discurso bonito de Sementes Do Amanhã para substituí-lo pelo rótulo para o qual ela é criada, em casa e na escola: "Alienados, dirijam-se à direita. Rebeldes, pra esquerda. E façam fila, por favor".
Exemplos disso são as regras confusas do convívio Jovem X Sociedade: Um menino de dezesseis anos, digamos, deve (ou não) se responsabilizar por um crime, mas não pode responder por seus atos se for a um bar com os amigos. Negligência do pai, da mãe e/ou do dono do bar. E pelo menos um desses, pode estar certo, vai responder a processo judicial (no horário comercial, com pausa para almoço e pra novela da tarde). O mesmo moleque não pode dirigir, mas o Estado garante seu direito de eleger governantes - deixando sempre claro que não acredita na maturidade dele pra tamanho ato cívico (o próprio Brasil esculhamba todo o seu processo eleitoral...). E como se não bastasse o bafafá, a mídia de entretenimento ainda engrossa o caldo dos estereótipos da juventude, com suas gírias iradas que, tipo assim, piram o cabeção de toda a galera. Caraca, meu.
No fim das contas, a grande pergunta não é se o adolescente tem (ou não) que pagar pelos crimes que supostamente cometeu. Agora, o que ninguém sabe e todo mundo quer saber é:
Menor, ainda vá lá. Mas menor que quem?
A autora adianta a resposta: menor que a mídia, que os rótulos, que as tradições, que a bur(r)ocracia, que o Estado, que o senso comum, que o sistema educacional e - por que não? - menor de idade.

terça-feira, 20 de março de 2007

Redação

Fez-se silêncio onde silêncio sempre foi e surpresa não houve - no silêncio havia comodidade. Conforto e quietude. Talvez porque no silêncio morrem as promessas há tanto esquecidas, encobertas pelo engano de que essas se cumpririam como sentenças, assim, silenciosamente.
No silêncio ainda repousam as palavras de desculpas que foram pensadas outrora, e talvez tenham permanecido assim, em pensamento, por se fazerem desnecessárias - já que há perdões que só o silêncio pode pedir. Ainda mais o perdão de uma promessa esquecida. De fato, só restava o silêncio que sempre lá esteve - e por que não haveria de estar?
E é possível que até o silêncio tenha se assustado com o basta sussurrado por um fio de voz, que desencantou-se do silêncio o suficiente para perceber que em sua comodidade e quietude reside também o conformismo e o medo; e que só há beleza no silêncio quando este é precedido da poesia e da força que só as palavras podem conter.
Aquele sussurro ficou pairando no silêncio que se seguiu sabe-se lá por quanto tempo, à espera de um grito seguidor, de mesmo um gemido de aprovação. Mas é difícil romper as amarras do confortável, e aquele fio de voz ficou ali, imerso no silêncio alheio e na decepção de ser apenas um sussurro incapaz de contagiar o que foi calado dentro de cada um.
E mesmo sabendo que dentro de si carregava não só um sussurro, mas um grito contido, aquele fio de voz que por um momento ousou sussurrar trocou o sussurro por um suspiro cheio de impotência e frustração. Resignado, deixou o comodismo calar sua tristeza e fez-se silêncio onde silêncio já não era.
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Primeiras decepções com o jornalismo.